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1.O Arcebispo
Justin Welby, oficialmente o 105º Arcebispo de Canterbury, é um ex-executivo da indústria petrolífera, selecionado em 2013 como Arcebispo de Canterbury, sucedendo Rowan Williams. A ascensão de Welby ao Arcebispado foi considerada meteórica. Ele assumiu formalmente o cargo em 21 de março de 2013, apenas dois dias após a posse do Papa Francisco. Ele e Francisco compartiram muitas ideias, viagens e problemas...
Welby foi eleito como um evangélico moderado mas governou como um modernista tímido. Ele passou seus 11 anos como arcebispo de Canterbury tentando evitar que a comunhão anglicana global se fragmentasse, muitas vezes lutando para agradar liberais ou conservadores enquanto avançava a agenda dos direitos homossexuais e pelas mulheres no clero da Inglaterra.
Em resumo o Arcebispo Justin Welby foi um líder franco que lidou mal com questões que iam do casamento entre pessoas do mesmo sexo à política de imigração da Grã-Bretanha, à guerra de Israel em Gaza, às reparações pela escravidão, às mudanças climáticas e aos seus próprios problemas de saúde mental. Foi um primado político que teve pouco tempo para questões espirituais.
Na prática Welby foi o responsável pela ordenação episcopal de mulheres e pelo avanço da agenda de gênero na Igreja. Mas, acima de tudo, foi incapaz de conter o declínio numérico contínuo da Igreja da Inglaterra. Uma avaliação recente destacou que a frequência caiu quase 30 por cento desde 2015, enquanto os déficits financeiros nas dioceses devem exceder £ 60 milhões este ano. Esta é agora uma crise existencial para a Igreja, pois seus líderes consideram a responsabilidade por milhares de igrejas (e uma conta de reparo estimada em mais de £ 1 bilhão) e clérigos e voluntários sobrecarregados lutando para manter o que resta funcionando.
Welby disse numa entrevista, ao “The Rest is Politics” em 20 de outubro, que ele não lia mais as mídias sociais porque ele acreditava muito facilmente nas acusações de que ele era “o pior arcebispo de todos os tempos”. Welby deixa para trás uma Igreja da Inglaterra confusa, ferida e encolhida. Welby pode, realmente, ser considerado o pior arcebispo que Cantuária já teve. Seu legado foi medíocre e seu fim, trágico.
2. O escândalo
Não foi a teologia moral ou as finanças quem levaram a sua queda. No final Welby foi derrubado por uma questão do passado da igreja e não do seu futuro: a falha em investigar um escândalo de abuso que remontava a décadas.
Justin Welby foi obrigado a renunciar devido a um escândalo sexual envolvendo má conduta em 2013. Isso aconteceu após a divulgação de um relatório condenatório sobre John Smyth, considerado “o abusador em série mais prolífico associado à Igreja da Inglaterra”. Mais de 8000 pessoas pediram sua renúncia.
Esse relatório, que surgiu esta semana, descobriu que a Igreja da Inglaterra tinha, a partir de 2013, perdido oportunidades de levar Smyth à justiça. Welby e outras figuras importantes sabiam sobre o abuso que Smyth impôs às suas vítimas no final dos anos 1970 e início dos anos 1980.
Smyth, um advogado e líder evangélico anglicano (grupo à qual Welby pertencia), foi acusado de espancar e abusar de meninos no galpão em seu jardim em Winchester. Smyth era um sádico e um pervertido, mas em vez de ser levado à justiça civil, ele foi autorizado pela Igreja a se mudar para a África do Sul, onde ele dirigia acampamentos de verão para jovens. Como era de se esperar ele continuo a pratica as mesmas violências na África.
As autoridades africanas não foram alertadas sobre as preocupações sobre seu comportamento no Reino Unido, e ele foi posteriormente acusado de homicídio culposo de um garoto de 16 anos em um acampamento no Zimbábue.
Smyth morreu em 2017, na cidade do Cabo, durante o processo de extradição, o que significa que ele “nunca foi levado à justiça pelo abuso”. A revisão diz que deve ter havido muito mais vítimas do que o número de 30 meninos e jovens conhecidos por terem sido abusados no Reino Unido, e cerca de 85 conhecidos por terem sido abusados em países africanos.
3.A renúncia
Segundo a legislação aprovada pelo Parlamento e pelo Sínodo Geral — o órgão legislativo da igreja — o arcebispo é obrigado a renunciar aos 70 anos. Welby, 68, fará 70 anos em janeiro de 2026 e, segundo relatos, pretendia permanecer no cargo até então. Ele deixou isso claro ainda essa semana.
É possível que um arcebispo se aposente mais cedo se desejar, e se o Rei aceitar seu pedido para fazê-lo. Isso foi feito pelo antecessor de Welby, o Dr. Rowan Williams (que também fez um péssimo arcebispado), que renunciou aos 61 anos para retornar à academia. Mas Welby será o primeiro a fazer isso por um escândalo sexual. Comentaristas da Igreja disseram que não conseguiam pensar em um precedente histórico para a renúncia de um arcebispo devido a um escândalo.
Em sua declaração de renúncia, Welby expressou a esperança de que sua decisão deixasse claro “quão seriamente a Igreja da Inglaterra entende a necessidade de mudança”. O que significa essas tais “mudanças” só o tempo dirá. Quem quer que seja entronizado em Canterbury deve agora buscar essas reformas de salvaguarda da maneira “sem remorso” que Justin Welby deveria, ele diz, ter usado para garantir que Smyth encontrasse justiça nesse mundo. Que Deus tenha piedade (do que ainda resta) da Igreja da Inglaterra, sare as vítimas de John Smyth e perdoe os pecados de Justin Welby.
Rodson Ricardo
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